Piscina de antiga propriedade foi revelada com o baixo nível da represa do Rio Jundiaí e se tornou um ponto 'diferente' para pescaria (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
O baixo nível da represa do Rio Jundiaí, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, está revelando uma paisagem incomum. Tocos de árvores, restos de construção e até a piscina de uma antiga casa voltaram à superfície. A represa está localizada no distrito de Taiaçupeba e surpreende moradores e antigos frequentadores. Ela faz parte do Sistema Alto Tietê, que na segunda-feira (14) estava com 36,1% de sua capacidade – o índice mais baixo desde 2006. Apesar disso, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou que não há risco de desabastecimento.
Em dezembro, a água produzida na região passou a atender parte da população que antes era abastecida pelo Sistema Cantareira, mas a medida foi anunciada pelo governador Geraldo Alckmin apenas em março. De lá para cá, o nível do Sistema Alto Tietê caiu cerca de 14%.
O nível do Sistema Cantareira na segunda-feira era de 12,1%, segundo a Sabesp. O governo estadual está oferecendo desconto para moradores que economizarem água em 31 cidades da Região Metropolitana. A Sabesptambém admitiu a possibilidade de adotar um rodízio de água, mas afirmou na última quinta-feira (10) que o volume morto do Cantareira garante o abastecimento até o fim do ano.
O artesão e torneiro ferramenteiro Luiz Martins Vieira, de 59 anos, vive no distrito de Taiaçupeba desde que nasceu. Ele se diz impressionado com o nível da água. "Está uma média de 4 metros abaixo do normal. Tem muito toco aparecendo, lixo. Já esteve baixo, mas não tanto", diz.
Tocos de árvores voltaram à superfície e agora são
bastante comuns (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
Morador mostra mexilhões que apareceram na
beira da barragem (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
Uma das surpresas é o aparecimento de mexilhões de cerca de 10 centímetros de comprimento, que podem ser facilmente encontrados nas margens da represa. "Eu nunca tinha visto mexilhão tão grande. Sabia que tinha pequenos, mas esta é a primeira vez que aparecem esses. Vou usar para fazer artesanato", conta Vieira.
Disputadas por garças e gaviões, restos de contruções antigas emergem como pequenas ilhas a cerca de 100 metros da margem. Segundo Vieira, essas são as ruínas do sítio de um famoso pintor chinês que viveu no local entre as décadas de 1950 e 1960. Até um antigo poço foi revelado pela queda no nível da água.
"O pessoal o conhecia como 'chinês barbudo'. Ele tinha uma granja de galinhas poedeiras, e é o alicerce da granja que está aparecendo. Era muito boa a granja dele, todo mundo queria trabalhar lá", lembra Veira. O artesão explica que os vários tocos de pinheiro que despontam na superfície também foram plantados pelo chinês.
Antiga estrada asfaltada também emergiu e agora é
'cortada' pela represa (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
Além disso, em outro ponto da represa, uma antiga estrada asfaltada voltou à tona parcialmente. Em um curioso cenário, a pista "entra" na água e emerge novamente metros depois. Morador de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, o motorista Cláudio Roberto Garcia frequenta o local desde os 9 anos de idade. "Essa estrada se ligava à Mogi-Bertioga antigamente. Eu nunca tinha a visto em um nível tão baixo", comenta.
Piso ao redor de piscina está totalmente
preservado (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
No canteiro de um antigo trevo, está instalado um marco do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de cerca de 4 metros de altura. Os arredores do lugar estão totalmente secos. Segundo Garcia, normalmente as águas cobrem o marco quase que totalmente, deixando-o apenas cerca de 1 metro para fora.
A piscina
Um dos achados mais surpreendentes é a piscina de uma antiga chácara que foi inundada. Todo o tanque e o piso ao redor estão preservados. E a seca na região é tão severa que mesmo a água da piscina está cerca de um palmo abaixo da borda.
As extremidades do piso viraram uma privilegiada plataforma para a dupla de pescadores Valdir Simões e Antonio José Brigatto. "Impressiona o nível da represa. Aqui era bem cheio e agora está ruim até para pescar. Estou desde as 7h e só peguei catatauzinho, peixe pequeno", afirma Simões.
O aposentado Brigatto, que descobriu a piscina há cerca de duas semanas, pesca na região há 15 anos e não teve sorte melhor que o amigo. Os peixes eram pequenos, mas ele ainda tinha fé na localização estratégica. "Essa piscina é das casas antigas, de casa grande. Ficou um lugar bom para pescar, só não dá para nadar", diz.
Segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o período de chuvas intensas já passou. A atual estação (outono) é caracterizada por ser um tempo de seca.
Apesar da necessidade de um período de chuvas constantes para levantar significativamente os níveis das represas, há chances de a situação se amenizar com a previsão de chuva para esta terça-feira (15). De quarta (16) a domingo (20), a previsão indica pancadas de chuva localizadas.
Depois da chuva que começou na noite de sábado (12), o nível do Sistema Alto Tietê subiu pela primeira vez em abril, de 35,6% para 36,1% da capacidade.
Sistema Alto Tietê
Implantado no início da década de 1970, o Sistema Alto Tietê, na Grande São Paulo, exigiu a desapropriação de vários imóveis. O sistema é formado por cinco reservatórios: Ponte Nova (Rio Tietê), no limite dos municípios de Salesópolis e Biritiba Mirim; Paraitinga (Rio Paraitinga), em Salesópolis; Biritiba (Rio Biritiba), no limite dos municípios de Biritiba Mirim e Mogi das Cruzes; Jundiaí (Rio Jundiaí), em Mogi das Cruzes; e barragem de Taiaçupeba (Rio Taiaçupeba), no limite de Mogi e Suzano. A água do sistema é tratada na Estação de Taiaçupeba, em Suzano.
Pescador Valdir Simões brinca de fisgar peixe nas águas estagnadas de antiga piscina (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)