Chefe de gabinete de Obama viu 'esperança' na escolha de moderado.
Ele insistiu na necessidade de clareza sobre o programa nuclear iraniano.
O chefe de gabinete da Casa Branca disse neste domingo (16) que a eleição de Hassan Rohani para a presidência do Irã, ocorrida na véspera, era um "sinal potencialmente esperançoso" e que, se o eleito cumprir com a obrigação de "agir claramente em relação ao ilítico programa nuclear", vai ter nos EUA um "parceiro".
Denis McDonough fez as declarações no programa "Face the Nation", da TV CBS.
"Se ele estiver interessado, como disse em sua campanha, em consertar as relações do Irã com o resto do mundo, está aí a oportunidade de fazê-lo", disse o chefe de gabinete de Barack Obama.
Estados Unidos, Israel e os países ocidentais suspeitam que Teerã tente desenvolver uma arma nuclear, mas o regime iraniano insiste que seu programa atômico tem fins civis.
McDonough disse que, se Rohani respeitar as obrigações de seu governo, "abre-se uma grande oportunidade para o Irã, e para o povo desse país, de ter o tipo de futuro que eles desejam".
O clérigo Rohani, considerado um moderado, foi eleito já no primeiro turno, ao derrotar três candidatos "linha dura".
Sua eleição marca o fim de oito anos de poder conservador no Irã. Mas a tarefa que ele tem pela frente não é fácil.
No exterior, a Síria, que mantém relações estreitas com o atual presidente Mahmud Ahmadinejad, manifestou seu desejo de fortalecer seus laços com o novo presidente.
A Rússia, outra aliada do Irã no que se refere à Síria, também expressou seu desejo de aprofundar suas relações com o regime iraniano.
No Líbano, o movimento islâmico xiita Hezbollah, apoiado por Teerã, afirmou que o sucessor de Ahmadinejad "traz esperança".
Fora da região, diversas monarquias árabes do Golfo disseram esperar uma melhoria nas relações, atualmente tensas, com a República Islâmica.
O premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, ao contrário, pediu para que a comunidade internacional mantenha a pressão para que o Irã interrompa suas atividades nucleares. Ele lembrou que a política nuclear iraniana é definida pelo líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.
A Austrália pediu que Rohani retome as negociações com as grandes potências sobre o tema nuclear "de forma séria".
"Rohani não pode mudar o cerne da estratégia iraniana sobre a questão nuclear, determinada pelo líder superemo (Ali Khamenei), mas pode mudar o tom e a equipe (de negociadores)", explicou Ali Vaez, pesquisador da ONG Internacional Crisis Group, em Bruxelas.
"Adotando uma retórica mais conciliadora e envolvendo negociadores mais experientes, ele poderá causar um impacto positivo" em discussões que estão em impasse há muito tempo, disse.
Sanções internacionais foram impostas para que o Irã, que nega estar fabricando armas nucleares, suspenda seu programa de enriquecimento de urânio. As medidas provocaram um aumento do desemprego, fizeram a inflação saltar para mais de 30% e causaram a desvalorização do rial em quase 70%.
O presidente eleito pregou uma política mais flexível em relação às grandes potências com o objetivo de amenizar as sanções e pediu para que os países ocidentais "reconheçam os direitos da República Islâmica" nas negociações sobre energia nuclear.
Uma "détente" com os países ocidentais permitiria ao Irã renovar sua imagem, prejudicada pela repressão ao movimento de contestação das eleições de 2009 e as intempestivas declarações de Ahmadinejad.
Ahmadinejad, que questionou a existência do Holocausto, "era a imagem do Irã no mundo. Esta imagem vai mudar. De agora em diante teremos um homem calmo, preocupado com um discurso moderado", explicou um especialista iraniano que pediu para não ser identificado.
Neste domingo, a imprensa reformista comemorava a vitória. "O sol da moderação nasceu", anunciou o jornal "Arman", enquanto o diário "Etemad" evocou "a saudação do Irã ao xeque da esperança".
A mídia já especula a composição do governo de Rohani, que só tomará posse em 3 de agosto. O presidente eleito reuniu-se ainda no sábado com o presidente do Parlamento, Ali Larijani, para discutir a formação de seu gabinete, que deve ser aprovado pelos deputados, informou o site do Parlamento.
Ainda segundo a imprensa, Rohani concederá uma coletiva de imprensa na segunda-feira às 16h (11h30 GMT).
Rohani, um clérigo moderado de 64 anos, surpreendeu neste sábado ao vencer no primeiro turno as eleições presidenciais do Irã com 50,68% dos votos. A vitória marca o retorno dos moderados e reformistas ao governo, após um longo hiato iniciado após as manifestações contra a reeleição de Ahmadinejad em junho de 2009, duramente reprimidas.
Negociador da questão nuclear entre 2003 e 2005, Rohani foi beneficiado pela união dos segmentos moderados e reformistas e por uma grande mobilização dos eleitores, cuja taxa de participação atingiu 72,7%.
Após as cenas de alegria nas ruas de Teerã na noite de sábado, os iranianos voltaram ao trabalho e aguardam a partida de futebol contra a Coreia do Sul na próxima terça-feira. Em caso de vitória, o Irã se classificará para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário