quinta-feira, 13 de junho de 2013

Moradores mostram alicate e balas em bairro de jovem morto por PMs


Segundo moradores, rapaz era inocente e foi vítima de violência policial.
PM alega que foi recebida a tiros. Crime ocorreu em bairro de Salvador.

Balas (Foto: Imagem/TV Bahia)Cápsulas de balas foram encontradas por
moradores (Foto: Imagem/TV Bahia)
Um alicate de pressão e cápsulas de balas de arma de fogo foram encontrados por moradores da Rua Aurelino Silva, no bairro do Nordeste de Amaralina, em Salvador. Um jovem de 22 anos foi morto a tiros por policiais militares da Base Comunitária de Segurança do Nordeste de Amaralina, na manhã desta quinta-feira (13). Parentes alegam que ele é inocente e foi vítima de violência policial. A polícia afirma que o rapaz é uma dos oitos pessoas que receberam uma guarnição com tiros.
Segundo os populares, o alicate teria sido utilizado pelos policiais para entrar nas casas dos moradores. Uma moradora do bairro diz que teve a casa invadida por policiais. "Eles [PMs] deram uma bicuda na minha porta porque meu menino não saiu. Depois, bateram no meu menino dentro de casa", afirma Maria Aparecida.
Alicate (Foto: Imagem/TV Bahia)Segundo moradores, alicate teria sido utilizado para
entrar nas casas (Foto: Imagem/TV Bahia)
A família do jovem morto conta que ele trabalhava em um hotel no bairro da Barra  e que estava de folga. "Ele era trabalhador, trabalhava em um hotel. Pergunte a eles [policiais] se encontraram droga, se acharam arma, se acharam alguma coisa", relata o pai da vítima, que soube do crime no trabalho.
Moradores fizeram um protesto na manhã desta quinta-feira para denunciar o crime. No fim da tarde, eles se reuniram mais uma vez em manifestação. "Eu só ouvi os tiros. Estava dentro de casa e me joguei no chão. 'Mainha' pegou minha filha de um ano e dois meses e se jogou no chão. A menina que trabalha lá em casa passou mal, a gente não podia nem socorrer", relata Debora Cristian, que mora no bairro há oito anos. Segundo ela , a ação dos policiais deixou os moradores com medo. "As crianças chorando, assustadas. Elas estão crescendo traumatizadas. Eu não aguento mais essa violência. A gente tem medo. A gente tem mais medo de polícia que bandido", conta.
Através da assessoria, a Polícia Militar informou que uma guarnição da Base fazia uma ronda pela localidade conhecida como Olaria, quando foi recebida a tiros por oito homens. Segundo a nota, os policiais revidaram e um dos suspeitos foi atingido. Sobre os projéteis e o alicate, a PM também se pronunciou, a pedido da reportagem. "Os projéteis e os estojos encontrados provavelmente decorram da troca de tiros existente durante a ação da PM. Até o presente momento não há nenhuma informação que evidencie a utilização desta ferramenta", disse.
Fatalidade
O crime ocorreu na mesma rua em que o menino Joel, então com 10 anos, foi morto em 2010. Nove policiais respondem pelo caso. Segundo os familiares, Carlos Alberto era primo de Joel e, assim como o adolescente, também tinha um pai mestre em capoeira. A vítima morta nesta quinta era casado e deixa um filho de 3 anos.
"Mataram um inocente, do lado da casa daquele menino Joel [morto pela polícia]", disse um morador, que preferiu não se identificar. Ele fez referência à morte de um menino de 10 anos, vítima de ação policial no bairro em 2010.
O jovem baleado nesta quinta-feira foi levado por policiais para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu. A Polícia Militar afirmou que foi apreendido com o suspeito um revólver calibre 38. Uma outra arma, calibre 32, foi encontrada em um terreno baldio perto do local onde o confronto aconteceu, segundo a PM.
Trânsito engarrafa devido a protesto no Nordeste de Amaralina, em Salvador (Foto: Reprodução/TV Bahia)Trânsito engarrafou devido ao protesto no Nordeste de Amaralina, em Salvador (Foto: Reprodução/TV Bahia)

Caso Joel
O menino Joel Conceição Castro, de 10 anos, foi assassinado com um tiro na cabeça em novembro de 2010, durante diligência policial no bairro de Nordeste de Amaralina. Nove PMs foram denunciados pelo Ministério Público como autores do crime.
Joel morreu após ser baleado no rosto em Salvador (Foto: Reprodução/TV Globo)Menino Joel morreu após ser baleado no rosto
(Foto: Reprodução/TV Globo)
Segundo Joel Conceição, pai do garoto, que continuou morando no local com a família após a morte do filho, o rapaz assassinado nesta manhã era conhecido na comunidade como Júnior e considerado "um bom menino" e trabalhador.
"Minha filha me ligou em pânico. Ele foi baleado e levaram ele para o HGE. Depois, a gente recebeu a ligação de lá dizendo que ele tinha morrido", relata.
O mestre em capoeira Joel Conceição faz denúncias contra a ação de policiais militares. "Eles atiram à toa, ficam invadindo a casa dos outros. Todo mundo aqui na comunidade é ladrão para eles. Isso de revide é mentira. Temos provas aqui. Os vizinhos viram", afirma Joel, que estava no trabalho no momento do crime e voltou para casa após a notícia dada pela filha.
Base de Segurança
A Base de Segurança Comunitária do Nordeste de Amaralina foi inaugurada em setembro de 2010, junto com outras duas unidades para segurança comunitárias, que abrangem o Vale das Pedrinhas e Santa Cruz.
Os três bairros eram apontados como os mais perigosos da capital baiana, antes das bases. A PM afirma que após a chegada da polícia comunitária no local o número de ocorrências policiais reduziu em 50%.

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